segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Patrimônio

Um jovem advogado foi indicado para inventariar a patrimônio de um senhor recém-falecido. Segundo o relatório do seguro social, o idoso não tinha herdeiros ou parentes vivos. Suas posses eram muito simples. O apartamento alugado, um carro velho, móveis baratos e roupas puídas.
“Como alguém passa toda a vida e termina só com isso?”, pensou o advogado. Anotou todos os dados e ia deixando a residência quando chamou-lhe a atenção um porta-retratos sobre um criado-mudo.

Na foto, estava o senhor, ainda era jovem, sorridente.  Ao fundo, um mar muito verde e uma praia repleta de coqueiros. À caneta, escrito bem de leve no canto superior da imagem, lia-se “sul da Tailândia”.
Surpreso, o advogado abriu a gaveta do criado e encontrou um álbum repleto de fotografias. Lá estava o senhor em diversos momentos da vida, com ar de felicidade, em fotos tiradas em todos os cantos do mundo.

Em uma casa de tangos na Argentina, diante do Muro de Berlim, em um tuk tuk no Vietnã, sobre um camelo com as três famosas pirâmides egípcias ao fundo, tomando vinho em frente ao Coliseu, encantado com a Torre Eiffel, fingindo acertar o relógio de pulso diante do Big Ben, com a mão erguida no convés de um barco e a Estátua da Liberdade num canto...
Na última página do álbum, um mapa, quase todos os países do planeta marcados com um asterisco vermelho, indicando por onde o velho tinha passado. Escrito à mão, no meio do Oceano Pacífico, uma pequena poesia:

Não construí nada que me possam roubar.
Não há nada que eu possa perder.
Nada que eu possa tocar,
Nada que se possa vender.

Eu que decidi viajar,
Eu que escolhi conhecer,
Nada tenho a deixar
Porque aprendi a viver.

Sem comentários:

Enviar um comentário