Depois da verdadeira destilação de opiniões na minha
timeline contidas, exarcebadas, “hechas em Cuba” ou “made in Miami”, só digo: O
Rio de Janeiro é, realmente, um grande retrato da diversidade espacial
brasileira. Como geógrafo, é um prato cheio e tanto. Ainda adolescente já me
deliciava em desvendar os diferentes rincões espalhados pelo município, mesmo
ciente das dificuldades que iria encontrar. São tantas realidades distintas
compartilhando a mesma área que poderíamos dizer que a cidade carioca é uma
paisagem síntese dessa diversidade. Se por um lado, o contraste harmônico no
encontro entre o mar, floresta e cidade é eternizado nos cartões postais e
distribuído como imagem da cidade e do próprio país pelo mundo, outras formas
de diversidade dentro do espaço carioca são menos aclamadas, para quando dizer,
ignoradas. É a favela em frente aos prédios de classe alta, é o menino fazendo
malabarismo no sinal no meio dos carros, é a Zona Norte de casas espalhada pela
planície, de costas a uma Zona Sul edificada e espremida na orla, ao mesmo
tempo concentrada e concentradora. Quase um efeito luz e sombra. Um contraste
Norte/Sul ou Sudeste/Nordeste. Desafiei a lógica que orienta o cidadão da Zona
Sul a ignorar essa concentração e a ir atrás de novos elementos espaciais que
participam da dinâmica urbana carioca além do túnel e que, em muitos casos,
passam ignoradas por quem “não é da área”. As eleições, no entanto, servem para
evidenciar elementos, opiniões e, especialmente, preconceitos que sempre
existiram sob a flor da pele e entranhados nos modos da população. Adoramos
julgar, mas nos colocar na pele do outro, alguém se habilita? Não entendo como
votam em A ou em D é o que mais li no FB, mas procurar uma explicação para
isso, poucos fazem. Posso pelo menos colocar um motivo forte para cada lado.
Por um lado, por mais que muitos façam manha, é inegável que houve uma evolução
nos últimos 10 anos que se concerne a estrutura urbana da cidade, especialmente
em locais bem carentes. BRT, Vila Carioca, Teleférico, novos trens, UPAs,
escolas, vilas olímpicas. O princípio das UPPs. Basta pegar o street view do
Google e ir à Estrada do Itararé dentro do Alemão ou na Estrada da Gávea dentro
da Rocinha. E com isso chegam novos atores, públicos ou privados, inserindo a
lógica do mercado. Obvio que 10 anos não acabariam com mais de um século de
desigualdades sociais, mas dá pra notar o avanço. Por outro lado, o aumento do
custo de vida, que pode ser percebido desde a prateleira de supermercado até a
tabela de imóveis no jornal, passando nessa escala por cada elemento da
economia, e também na paisagem: É aluga-se pra cá, vende-se pra lá, é
estabelecimento na esquina fechando as portas. No final sobra para a população
como um todo, mesmo que em diferentes impactos para cada indivíduo, e reflete
na aprovação final de cada governo. Esse dois dos motivos que mais ouvi nas
ruas, no transporte e, para cada um eles tem o seu peso, se justificam ou não é
critério de cada um. O que precisa é menos ódio e mais respeito. Não adianta
vir com papo de separatismo agora porque isso não resolve nada. Quem sabe seja
pelo menos possível rebaixar o muro invisível entre os Rios, aquele tão
protagonizado na campanha do Lindberg?
E antes que perguntem, votei em Aécio, não pelo chavão de
mudanças (nem falo de corrupção porque sei que é farinha do mesmo saco), mas
porque acho que essa fase de investimentos em programas sociais irá perder
fôlego caso a inflação continue a crescer e o baixo crescimento econômico
persista. Agora, só me falta esperar que o segundo mandato da Dilma me
contradiga. E antes que digam, prefiro ir para Nova Iorque do que Miami.
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