terça-feira, 28 de outubro de 2014

Por Nuno Graça.

Depois da verdadeira destilação de opiniões na minha timeline contidas, exarcebadas, “hechas em Cuba” ou “made in Miami”, só digo: O Rio de Janeiro é, realmente, um grande retrato da diversidade espacial brasileira. Como geógrafo, é um prato cheio e tanto. Ainda adolescente já me deliciava em desvendar os diferentes rincões espalhados pelo município, mesmo ciente das dificuldades que iria encontrar. São tantas realidades distintas compartilhando a mesma área que poderíamos dizer que a cidade carioca é uma paisagem síntese dessa diversidade. Se por um lado, o contraste harmônico no encontro entre o mar, floresta e cidade é eternizado nos cartões postais e distribuído como imagem da cidade e do próprio país pelo mundo, outras formas de diversidade dentro do espaço carioca são menos aclamadas, para quando dizer, ignoradas. É a favela em frente aos prédios de classe alta, é o menino fazendo malabarismo no sinal no meio dos carros, é a Zona Norte de casas espalhada pela planície, de costas a uma Zona Sul edificada e espremida na orla, ao mesmo tempo concentrada e concentradora. Quase um efeito luz e sombra. Um contraste Norte/Sul ou Sudeste/Nordeste. Desafiei a lógica que orienta o cidadão da Zona Sul a ignorar essa concentração e a ir atrás de novos elementos espaciais que participam da dinâmica urbana carioca além do túnel e que, em muitos casos, passam ignoradas por quem “não é da área”. As eleições, no entanto, servem para evidenciar elementos, opiniões e, especialmente, preconceitos que sempre existiram sob a flor da pele e entranhados nos modos da população. Adoramos julgar, mas nos colocar na pele do outro, alguém se habilita? Não entendo como votam em A ou em D é o que mais li no FB, mas procurar uma explicação para isso, poucos fazem. Posso pelo menos colocar um motivo forte para cada lado. Por um lado, por mais que muitos façam manha, é inegável que houve uma evolução nos últimos 10 anos que se concerne a estrutura urbana da cidade, especialmente em locais bem carentes. BRT, Vila Carioca, Teleférico, novos trens, UPAs, escolas, vilas olímpicas. O princípio das UPPs. Basta pegar o street view do Google e ir à Estrada do Itararé dentro do Alemão ou na Estrada da Gávea dentro da Rocinha. E com isso chegam novos atores, públicos ou privados, inserindo a lógica do mercado. Obvio que 10 anos não acabariam com mais de um século de desigualdades sociais, mas dá pra notar o avanço. Por outro lado, o aumento do custo de vida, que pode ser percebido desde a prateleira de supermercado até a tabela de imóveis no jornal, passando nessa escala por cada elemento da economia, e também na paisagem: É aluga-se pra cá, vende-se pra lá, é estabelecimento na esquina fechando as portas. No final sobra para a população como um todo, mesmo que em diferentes impactos para cada indivíduo, e reflete na aprovação final de cada governo. Esse dois dos motivos que mais ouvi nas ruas, no transporte e, para cada um eles tem o seu peso, se justificam ou não é critério de cada um. O que precisa é menos ódio e mais respeito. Não adianta vir com papo de separatismo agora porque isso não resolve nada. Quem sabe seja pelo menos possível rebaixar o muro invisível entre os Rios, aquele tão protagonizado na campanha do Lindberg?
E antes que perguntem, votei em Aécio, não pelo chavão de mudanças (nem falo de corrupção porque sei que é farinha do mesmo saco), mas porque acho que essa fase de investimentos em programas sociais irá perder fôlego caso a inflação continue a crescer e o baixo crescimento econômico persista. Agora, só me falta esperar que o segundo mandato da Dilma me contradiga. E antes que digam, prefiro ir para Nova Iorque do que Miami.


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